Os benefícios são ainda maiores para as crianças, que são muito suscetíveis à contaminação e aos efeitos dos agrotóxicos
Se antes comer alimentos orgânicos era costume só de ecologistas e vegetarianos, agora eles fazem parte da alimentação de muita gente. Até a Casa Branca – quem diria – possui uma horta orgânica em seu jardim.
Tal iniciativa acaba de render seu primeiro fruto. Em abril de 2012, Michelle Obama lançará o livro American Grown: How the White House Kitchen Garden Inspires Families, Schools and Communities (algo como Crescimento Americano: Como a horta da Casa Branca inspira famílias, escolas e comunidades) para contar sobre a experiência com o cultivo de orgânicos, que ela começou em 2009 em uma das casas mais famosas do planeta.
A primeira-dama norte-americana também chama atenção para uma questão que preocupa a todos: oferecer à família alimentos saborosos, nutritivos que não façam mal à saúde e não estourem o orçamento do mês. A professora Sônia Stertz, presidente da Sociedade Brasileira de Ciência e Tecnologia de Alimentos no Paraná, conduziu sua pesquisa de mestrado sobre a diferença de qualidade de produtos convencionais, hidropônicos e orgânicos, testando os mais diversos legumes, frutas e verduras, e chegou à conclusão de que os orgânicos têm mais nutrientes, como vitamina C, fibra alimentar e outros minerais importantes para a saúde, como o ferro e o selênio. A diferença do produto convencional para o orgânico é sempre benéfica. Pode chegar a 342% mais ferro no caso do morango e 425% mais selênio na cenoura, por exemplo.
Mas isso é o que os orgânicos têm a mais. O que eles têm a menos são justamente os agrotóxicos, que segundo estudo da Universidade de Berkeley, nos Estados Unidos, afetam dez vezes mais crianças do que adultos, além de terem efeito cumulativo ao longo da vida. Para completar, crianças de até 2 anos produzem em pequena quantidade uma enzima, que ajuda na detoxificação de pesticidas usados na agricultura convencional.
“A exposição a pesticidas está relacionada à hiperatividade, distúrbios de comportamento, de aprendizado, atrasos do desenvolvimento e disfunção motora”, explica Stertz. Ela comenta também que a presença de agrotóxicos no organismo está associada a diversas formas de câncer, sendo mais comuns em crianças o cerebral e a leucemia.
Mas com tantos benefícios, por que os alimentos orgânicos não fazem parte do prato de todo mundo? A culpa é o preço alto, especialmente nos centros urbanos. A boa notícia é que o abismo entre convencional e orgânico é menor a cada ano e promete cair muito mais. “Com o aparecimento das novas tecnologias, aumenta a produtividade, o que faz com que os custos baixem”, esclarece Vandro Colombo, diretor de Perecíveis do Walmart Brasil.
Hoje o consumidor que mora grandes cidades e não tem acesso direto aos pequenos produtores pode contar com pequenos comércios, feiras (as exclusivamente de orgânicos e as convencionais que cada vez mais trazem produtos orgânicos como opção), bem como as grandes redes de supermercado, que têm investido pesadamente nesse setor. Para quem quer praticidade, existe até papinha orgânica vendida pronta para os bebês. Segundo Stertz, são mais de 4 mil produtos orgânicos no Brasil devidamente certificados, e o consumidor interessado em adquiri-los deve tomar cuidado com inscrições que levam a crer que o alimento é orgânico. Hidropônico, produto natural e sem conservantesnão são considerados alimentos orgânicos. Na dúvida, o melhor é garantir que a palavra “orgânico” esteja na embalagem e que haja um selo de certificação.
Não há diferença entre o preparo de um alimento orgânico ou convencional. A maior vantagem do orgânico é que pode ser aproveitado por inteiro sem risco de contaminação. E no final, o pouco que for descartado, pode ainda transformar-se em alimento para os pássaros ou virar composto, por exemplo.
Para evitar os agrotóxicos nos alimentos convencionais
A especialista em orgânicos Sônia Stertz frisa que lavar os alimentos com água corrente não remove alguns tipos os agrotóxicos. Com o uso de hipoclorito nada acontece, enquanto o vinagre retira 10% e o bicarbonato 20% do resíduo pesticida. Por isso, a pesquisadora dá dicas para quem ainda não pode comprar todos os alimentos orgânicos, mas quer reduzir o risco de contaminação de sua família por agrotóxicos:
- Prefira frutas e verduras da época, que têm menos defensivos e hormônios;
- Descasque legumes e frutas. Você perderá algumas vitaminas contidas na casca, mas terá uma alimentação mais segura;
- Fique atento a legumes muito grandes. Quando produzidos convencionalmente, podem ser resultado de adubação e estimulantes artificiais;
- Dê preferência aos produtos nacionais em vez dos importados. “Frutas e legumes produzidos localmente não requerem tantos pesticidas como aqueles que percorrem longas distâncias e são armazenados por longos períodos de tempo”;
- Retire toda a gordura e pele no preparo de carnes. Os resíduos de pesticidas e outros produtos químicos tendem a se concentrar nos tecidos gordurosos dos animais;
- Escolha laticínios com baixo teor de gordura, pelo mesmo motivo das carnes;
- Dê preferência a folhosas como alface, agrião, almeirão, rúcula, couve manteiga e cheiro verde, que apresentam ciclo curto e por isso recebem menos pulverizações com agrotóxicos;
- Fique atento (e considere a versão orgânica) raízes, bulbos, tuberosas (beterraba, cenoura, cebola, alho, etc), que recebem mais pulverizações do que as folhosas por terem um ciclo de vida maior, assim como frutas e legumes, que são de plantio mais delicado e são mais sujeitas a pragas e doenças, por isso são as que mais recebem agrotóxicos;
- Escolha frutas convencionais com menos risco de contaminação, como caqui, pitanga, abacate, acerola, jaboticaba, côco, mexericas e nêspera. E evite as de alto risco, como morango, goiaba, uva, maçã, pêssego, mamão papaia, figo, pêra, melão e nectarina.