Comunicar-se com objetividade destaca as pessoas no mundo acadêmico, pessoal e profissional

Era uma vez um executivo competente que aos poucos conquistou espaço na área de marketing na empresa em que trabalhava. Os resultados de seus projetos impressionavam os chefes, mas na hora de apresentar publicamente seu trabalho o executivo arruinava a boa impressão, e a falta de habilidades para se comunicar com eficiência eventualmente o fizeram perder o emprego. A firma procurada para recolocá-lo só teve sucesso depois de encaminhá-lo para um curso de comunicação empresarial.

Em outra empresa, um gerente de Recursos Humanos com currículo e experiência brilhantes foi contratado para entrevistar candidatos a empregos junto a diretores e ao vice-presidente. Quando teve que discursar entre os colegas, no entanto, a escolha de palavras inadequadas levou a sua demissão.

O que mais impressiona em relação às histórias acima, contadas por uma consultora de carreira e por um professor de oratória, não é o fato de serem verdadeiras, mas sim o de serem cada vez mais comuns. Ser um aluno com boas notas, um profissional competente ou uma pessoa bem relacionada é importante, mas pode não valer muito se você não sabe se comunicar com objetividade.

Mas o que faz de um discurso, afinal, objetivo? O jornalista e escritor Michel Laub, coordenador da área de internet do Instituto Moreira Salles, professor de criação literária na Academia Internacional de Cinema de São Paulo e autor de quatro romances, define que um texto com objetividade é, além de tudo, claro e lógico. Reinaldo Polito, professor de oratória e autor de 19 livros, vai além. Para ele, comunicar-se com objetividade não depende somente da escolha de palavras ou da capacidade de síntese. “O importante é que a pessoa atinja os objetivos que deseja. Se um político fizer um discurso e não conquistar o voto dos eleitores, não terá feito um bom discurso. Se um profissional apresentar um projeto ou uma proposta e não conseguir a aprovação para os seus planos, também não fez uma boa exposição. Falar bem, portanto, é sinônimo de resultado. Não adianta falar ‘bonito’, usando todas as regrinhas que estão na cartilha, se o objetivo pretendido não for atingido”, afirma.

Para os que acham que comunicar com eficiência é usar poucas palavras, no entanto, Polito alerta: objetividade não é sinônimo de concisão, embora uma mensagem objetiva seja em geral mais resumida do que uma subjetiva porque vai direto ao ponto. “Algumas pessoas julgam que falar com objetividade significa obrigatoriamente falar pouco. Alguém diz: ‘Fiz uma ótima apresentação, pois falei em apenas dois minutos!’ Mas nesses dois minutos você falou tudo o que precisava dizer? Conseguiu convencer ou persuadir os ouvintes a respeito dos benefícios de sua proposta?”, questiona o professor. “Se a resposta é não, você falou pouco, mas não fez uma ótima apresentação. Falar com objetividade significa falar tudo o que precisamos, atingindo nossos objetivos, no menor tempo possível. Portanto, essa objetividade pode levar dois minutos, mas pode também levar vinte minutos ou duas horas.”

A regra é simples: a concisão favorece a objetividade, mas a definição de objetividade é a comunicação com menos marcas do interlocutor. Quem explica é o professor Eduardo Antônio Lopes, co-autor do material de língua portuguesa do Anglo Vestibulares. “O foco é no objeto, ou seja, no assunto abordado, e não nas crenças subjetivas do enunciador. A objetividade é a busca pelo foco no próprio objeto de trabalho, no assunto”, esclarece.

Comunicar-se de maneira eficaz e objetiva é, portanto, ir direto ao ponto, de maneira clara, lógica e sem falar mais do que precisa. Quando, então, é o momento ideal para incorporar a objetividade ao nosso discurso? Especialistas atestam que processos seletivos, sejam eles voltados para preencher vagas de empregos ou de cursos, são a ocasião perfeita para colocar em prática essa habilidade. “Quando uma pessoa disputa uma vaga de emprego ela concorre com outros pretendentes ao cargo que possuem mais ou menos a sua competência. Todos têm escolaridade semelhante, dominam as mesmas línguas, conhecem informática, tiveram experiência no exterior etc. A diferença entre os candidatos, de maneira geral, está na capacidade de comunicação”, afirma Polito, professor de oratória.

O segredo para se destacar em uma circunstância como essa é justamente adotar um discurso assertivo, sem rodeios, e responder apenas ao que foi perguntado pelo entrevistador. Quem ensina é Sueli Martines, consultora de carreira da Thomas Case & Associados, que trabalha com a recolocação de executivos no mercado de trabalho, orientando seus clientes a como agir e falar em uma entrevista de emprego. “É preciso ser articulado, mas também falar com objetividade. Porque existem profissionais muito bem articulados que são ‘enrolões’: ou querem responder mais do que foi perguntado, ou são aqueles que falam, falam, tem um poder muito bom de comunicação, mas que na prática não são capazes de fazer tudo o que dizem”, explica.

Mistura de entrevista de emprego e exame vestibular, os concursos públicos são um momento crucial para deixar a subjetividade de lado e se destacar entre os outros candidatos. “A objetividade em um concurso pode ser entendida como a procura pelo adequado, pelo relevante, ou seja, tudo que ali no papel se escreve está proporcional às convenções próprias de um texto – legibilidade, correção, ritmo adequado à leitura, construções equilibradas, conexão etc. – e proporcional ao conteúdo cobrado pelo concurso”, analisa João Bolognesi, professor de Língua Portuguesa do Complexo Jurídico Damásio de Jesus, que possui cursos preparatórios para concursos públicos. Para ele, um candidato que se preocupa em ir direto ao ponto já cresce aos olhos do examinador. “Não é tarefa simples ler, avaliar e selecionar os melhores entre centenas ou milhares. Quando o candidato permite que o avaliador desempenhe seu papel sem obstáculos, tende a ser recompensado.”

Os princípios valem para qualquer prova, seja ela na escola, na universidade, em outro curso ou em um processo seletivo. O que se deve ter em mente é que ser objetivo em um exame é saber adaptar-se à proposta cobrada. Bolognesi aconselha que objetividade é também questão de treino. É importante conhecer e estudar o que será pedido e o que se espera da pessoa – seja em uma entrevista de emprego, em um novo cargo, em uma apresentação, ou em uma prova – e como responder de maneira eficaz a essa demanda.

Ao levar isso em conta, especialistas apontam que a objetividade na comunicação depende intrinsecamente do público para o qual o falante se dirige. No caso dos vestibulares, por exemplo, as dissertações se dirigem a um auditório genérico, e por isso o discurso é diferente daquele necessário no dia-a-dia profissional e pessoal. “No fundo, a redação de vestibular não corresponde a nenhum texto efetivamente praticado no convívio social porque visa a um leitor qualquer. O indivíduo exerce uma profissão, se comunica com atores sociais específicos, tem um público-alvo para o qual vai mobilizar seus argumentos e linguagem”, observa Lopes, do Anglo Vestibulares.

Na comunicação cotidiana, portanto, é essencial compreender o nível intelectual, o conhecimento do assunto e a faixa etária dos ouvintes. Sem esse conhecimento, é difícil conseguir ser tão direto e objetivo quanto o necessário – a não ser que a pessoa esteja escrevendo uma redação de vestibular. “Se o enunciador tem noção do seu público e da familiaridade que ele tem com o objeto abordado no discurso, pode por exemplo usar um vocabulário que garante mais precisão, mais técnico, ou saber se deve evitar isso, usando paráfrases e explicações”, adiciona Lopes.

A escolha da linguagem, como sugere o professor do Anglo, está diretamente ligada ao nível de objetividade ou subjetividade de um discurso. Michel Laub destaca essa característica ao contrapor suas duas atividades, jornalista e romancista. “No texto jornalístico a objetividade pesa mais, e no literário é a subjetividade. No jornalismo é preciso explicar as coisas, mas na literatura é o contrário – para ser boa tem que trazer dúvidas para o leitor, confundir”, compara. Segundo ele, na prática das duas profissões um tipo de registro se mistura ao outro. No texto literário ele usa do jornalismo sua prática de editar textos, a densidade e organização das ideias, a lógica do enredo como a da notícia de jornal. Por outro lado, ele afirma que não é possível escrever um texto objetivo, de jornalismo, “sem ter o mínimo de cor e prazer para o leitor”, por meio de recursos da subjetividade.

O mesmo acontece na transição do discurso oral para o escrito. Comunicar-se com objetividade é algo completamente diferente se falamos ou escrevemos, aponta Laub. “Na comunicação oral temos outros recursos para demonstrar a objetividade ou subjetividade, porque vemos a expressão da pessoa que fala. Existe o recurso da voz, por exemplo, e da expressão corporal”, observa. Além disso, é preciso estar mais atento com a comunicação oral, pois não é possível voltar atrás, mudar a ordem de argumentos ou palavras, editar o discurso ou apagar repetições.

Se não sabe, aprende

Depois de compreender o que caracteriza a comunicação com objetividade, resta desmistificar a ideia de que falar ou escrever bem com essa qualidade é um dom nato, mas sim algo que se aprende e se aprimora. Para o professor Lopes, do Anglo, o exercício profissional treina as pessoas para perceber as estratégias de comunicação que geram maior efeito. Há também a possibilidade, especialmente em exames, de treinar, repetir e corrigir.

Para quem não tem disciplina ou precisa de uma solução mais rápida para poder se comunicar mais eficazmente, existem diversos cursos voltados para desinibição do falante, para aprender oratória, para a comunicação empresarial e para a elaboração de textos objetivos. Existem até mesmo consultores de comunicação particulares, treinadores contratados para melhorar as habilidades de um profissional de se comunicar com objetividade.

Nenhum curso ou orientação é eficaz, no entanto, se o falante continua incorrendo nas mesmas falhas. Lopes aponta para as principais dificuldades cometidas nesse caso. “O grande problema é que comunicação depende sempre do outro. As pessoas que têm dificuldade em ser objetivas não conseguem se colocar no lugar do interlocutor e mapear o que ele captou da mensagem”, analisa.

Outra crise para quem não consegue se comunicar com eficiência é a materialização do pensamento. “A pessoa pensa em um argumento, mas o expressa por palavras muitas das vezes de maneira confusa e distorcida”, detalha Marcondes de Oliveira Júnior, professor de língua portuguesa da Rede de Ensino LFG. A consultora de carreiras Sueli coloca também como obstáculo a prolixidade, que muitos acreditam ser uma vantagem. “As pessoas são muito ‘explicadinhas’, falam muito para mostrar que sabem, que têm domínio no assunto. Mas para ser objetivo, em primeiro lugar tem que ser direto na resposta. Se o interlocutor dá mais espaço para complementação, ok. Do contrário, a resposta já foi satisfatória”, afirma.

Anotou quais são as principais falhas na comunicação eficaz? Os especialistas complementam com dicas para quem quer falar e escrever com mais objetividade. No caso de uma apresentação oral, Reinaldo Polito sugere que logo de início quem faz o discurso deve contar de qual assunto tratará. “Esse cuidado ajudará na compreensão dos ouvintes, pois acompanharão com mais facilidade o desenvolvimento do raciocínio”, diz. Em seguida, é necessário falar de resultados e consequências. Então, o orador pode explicar com qual raciocínio chegou àquele ponto. “Se o orador agisse de maneira diversa, tentando explicar antes com detalhes como chegou ao resultado não conseguiria a atenção da plateia.”

Polito defende que outro elemento importante da objetividade é esclarecer os pontos da mensagem com histórias concretas, reais, de preferência com alguma ligação direta com o enunciador. “Se usar histórias fantasiosas, como fábulas ou parábolas, poderá parecer que está sendo prolixo e sem objetividade”, alerta.

O professor Lopes, do Anglo, dá três conselhos para um discurso (oral ou escrito) para um público geral: a valorização do argumento e não da crença subjetiva, a clareza do objetivo a ser atingido e uma boa seleção dos argumentos e do vocabulário, que tem que ter relevância social e ser acessível, porque está se direcionando a um auditório como um todo. “Essas dicas estão na base de qualquer comunicação. Já na prática social, o enunciador está submetido ao gênero do discurso, logo o que é adequado em uma ocasião pode ser inadequado em outra. Então as outras regras vão depender da situação e do público”, explica.

Marcondes de Oliveira Júnior, da Rede de Ensino LFG, complementa que é essencial em uma comunicação objetiva construir períodos curtos, usar a voz ativa e a linguagem denotativa. Mas para conseguir isso é preciso formar uma base de cultura geral e acumular bagagem de leitura. É o que defende Nelson Guarniero, professor de redação publicitária do curso de Publicidade e Propaganda da FAAP (Fundação Armando Álvares Penteado). Para ele, quem quer falar e escrever bem precisa ler de tudo, vários tipos de texto, para aprender o que é mais descritivo, subjetivo, objetivo, jornalístico. “Leia bastante para aprender a regra e saber usar a língua melhor. Conheci muitos redatores excelentes de ideias, mas na hora de colocar no papel, por falta de hábito de formação de leitura, o resultado ficava devendo em qualidade. Não adianta ter uma boa ideia se você não consegue expressá-la bem”, adverte. Outro ponto importante segundo o professor é estudar, entender e exercitar a estrutura de texto. “É fundamental porque aprendemos de forma regrada, vemos o que é o começo, a proposição, a argumentação, a conclusão e o fechamento. A partir disso, nos sentimos mais à vontade para dominar e transitar nessa estrutura, adicionando inclusiva mais nosso estilo”, observa.


O conciso e o prolixo

Objetividade é um instrumento cada vez mais essencial na prática profissional. Mas algumas carreiras exigem mais ou menos desse recurso. Na propaganda, por exemplo, a objetividade é uma ferramenta essencial que os publicitários carregam para as agências todos os dias. Nesse caso específico, ser objetivo é sempre sinônimo de transmitir a mensagem em pouco tempo ou poucas palavras, ou seja, ser conciso. “Criando para a propaganda, nosso veículo não vai estar disponível para o público o tempo que queremos, então a objetividade está ligada diretamente ao tempo de atenção do receptor”, afirma Nelson Guarniero, professor de redação publicitária do curso de Publicidade e Propaganda da FAAP (Fundação Armando Álvares Penteado).

Ivan Pinto, professor de Comunicação como Fator Estratégico da Empresa da pós-graduação em Comunicação com o Mercado da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing), complementa: “A mensagem interrompe sua leitura do jornal ou revista, então obviamente tem que ser curta. Portanto deve ser o mais objetiva possível, não dá para enrolar para entrar no assunto como fazem as novelas ou os romances”, diz. “Além disso, ela é objetiva no sentido que tem o objetivo claro de vender.”

De outro lado está um domínio profissional que resiste contra a objetividade: o Direito. “A área jurídica talvez seja a que mais se manteve arredia às necessidades que os tempos atuais exigem”, observa João Bolognesi, professor de Língua Portuguesa do Complexo Jurídico Damásio de Jesus. “Em uma época de comunicações instantâneas e de globalização, é inviável a manutenção de uma linguagem do século XIX como a que é praticada pelas praxes jurídicas. O ‘juridiquês’ já foi visto como elemento retórico, porém em nossos dias boa parte da sociedade tem consciência de que isso causa enormes prejuízos à celeridade e à exatidão processual e por isso tem sido combatido.”


Dicas para se comunicar com objetividade

  • Falar ou escrever com clareza e lógica
  • Usar argumentos para atingir os objetivos da mensagem
  • Lembrar que objetividade não é sinônimo de concisão
  • Ir direto ao ponto
  • Colocar menos marcas pessoais no discurso
  • Evitar prolixidade, falar apenas o necessário
  • Ser articulado sem rodeios
  • Focar-se no público e seu conhecimento sobre o assunto abordado
  • Treinar, repetir e corrigir o discurso oral ou escrito
  • Colocar-se no lugar do interlocutor para entender o que ele captou da mensagem
  • Usar como exemplos histórias reais
  • Valorizar o argumento e não a crença subjetiva
  • Fazer uma boa seleção dos argumentos e do vocabulário
  • Usar períodos curtos, voz ativa e linguagem denotativa
  • Ler diversos tipos de texto para dominar a língua
  • Estudar, entender e exercitar a estrutura de texto