Escolas confessionais se apoiam em valores e princípios religiosos para ensinar, junto ao conteúdo programático, suas tradições e costumes

A imagem da escola confessional como um ambiente austero, liderado a pulso firme por um líder religioso – na cultura latina, geralmente uma madre –, os internatos com separação de alunos por gênero, as regras de conduta estritas e o regime de repressão e punição; tudo isso ficou no passado e nos filmes que retratam uma realidade muito distante da atual. No mundo contemporâneo, pouco restou dessas escolas religiosas. Mesmo entre as escolas tradicionais, hoje a relação da sociedade com a religião e a educação é outra. É o que defende Sérgio Junqueira, professor do programa de mestrado de Teologia da PUC-PR e livre docente na área de Ciências da Religião. “As pessoas não deixaram de ser religiosas, mas interferência da religião quanto instituição foi revisada. Hoje um líder religioso pode falar ‘não faça isso’, mas a pessoa pode fazer se quiser, e tudo bem”, afirma. Além disso, ele acredita que as prioridades são outras: os pais modernos acham importante a formação religiosa, mas acima disso está a formação que fará seus filhos ingressarem nas melhores universidades. “Se a escola não fizer o aluno passar no vestibular, essa criança não vai mais ficar naquela escola, mesmo sendo religiosa.” Por isso, ele observa, as famílias modernas tendem ao pragmatismo: muitas matriculam em uma escola de religião diferente da sua porque o ensino é mais forte, ou porque a mensalidade é mais acessível.

Esse balanço entre o pragmatismo da vida moderna e o retorno às tradições resume as escolas confessionais de hoje no Brasil. As religiões e seus segmentos contemplados são os mais diversos, mas algo os une: a educação para valores morais que não foram criados pelas religiões, mas que estão na base delas. E que mais do que nunca são necessários em um mundo em que a ética e a moral estão fragilizadas. “A primeira pergunta que faço aos pais quando chegam à escola é o que os leva a procurar um colégio católico. Um dos valores que realçam é que estão preocupados com uma formação além da cognitiva, uma formação humana, para a cidadania, sólida com valores que acreditam”, diz Maria Aparecida Rocha, coordenadora de Pastoral de um colégio católico que professa a educação franciscana no bairro paulistano do Morumbi.

Mais do que isso, no entanto, já que valores humanos são também ensinados por escolas laicas, as escolas confessionais apresentam e ensinam tradições e ritos religiosos que muitas famílias gostariam de perpetuar com seus filhos. Embora a maior parte das escolas brasileiras seja laica, isso é algo relativamente recente. A educação no País foi trazida por Jesuítas, por isso os primeiros colégios já eram católicos. As primeiras escolas protestantes surgiram na segunda metade do século 19, seguidas pelas judaicas no século 20 e as poucas islâmicas nas últimas décadas. As principais escolas confessionais no Brasil hoje são as católicas (e suas diferentes congregações) e as protestantes (as mais expressivas são as presbiterianas, metodistas, batistas e adventistas). As judaicas e islâmicas, embora em menor número, tendem a ser mais tradicionais nos ensinamentos e costumes religiosos, porque também trazem consigo a cultura de povos que são minoria no País e que desejam perpetuar sua identidade. Em meio a tantas opções, o que os pais que procuram esse tipo de escola podem esperar? Como escolher uma escola confessional e ao que atentar no processo? Como a religião se expressa no ensino daquele colégio?

Ideologia às claras

O que faz de uma escola confessional é ser gerida por um grupo ou instituição religiosos, com princípios ideológicos daquela doutrina inseridos no ensino. Junqueira, da PUC-PR, observa que se o colégio é regido por uma ideologia, a primeira coisa que os pais devem conhecer é essa orientação religiosa e como ela se manifesta no cotidiano da escola. “As escolas religiosas deveriam expor isso aos pais com muita clareza, até que ponto a leitura religiosa interfere na formação que a família dá de valores e na questão do conhecimento”, diz. Tendo isso esclarecido, os pais não podem esperar que a escola “coloque seu filho nos eixos”.

O primeiro aspecto, em geral o mais conhecido e esperado nas escolas confessionais, é a aula de religião na grade. É interessante, no entanto, que os pais observem o conteúdo dessa disciplina em cada escola de acordo com o que esperam que seus filhos aprendam: as aulas podem tender aos dogmas daquela religião específica ou a uma visão mais ampla de religião e história.

Em uma rede de escolas adventistas de São Paulo, por exemplo, essa disciplina é compulsória para todas as séries e concentra histórias bíblicas. Já em uma escola católica na zona oeste de São Paulo, pertencente à congregação de Santa Cruz, a aula de religião é dada entre o 2º e o 9º ano do ensino fundamental, mas leva em consideração que muitos dos alunos não são católicos, por isso não foca somente na doutrina, mas no ensinamento dos valores cristãos e na história das religiões. Da mesma forma, o colégio franciscano do Morumbi aproveita essa disciplina para ensinar sobre a história das cinco maiores religiões: budismo, hinduísmo, judaísmo, cristianismo e islamismo. Outro tradicional colégio católico no mesmo bairro foca as aulas de religião (duas semanais) na prática dos valores cristãos: eles são ensinados e a escola estimula que sejam vivenciados através do trabalho voluntário ligado ao mosteiro mantenedor do colégio.

Em religiões mais tradicionais e minoritárias no País, o ensino religioso traz consigo também os ensinamentos da tradição, costumes e cultura que o aluno não vivencia na sociedade brasileira, majoritariamente cristã, e por isso pode aprender na escola. É o caso de uma escola islâmica na zona leste de São Paulo, que ensina a crença e os símbolos dos muçulmanos, como se preparar para a reza, como colocar na prática caráter e valores islâmicos e, por fim, um histórico da religião. Esses exemplos demonstram que o conteúdo da disciplina de religião varia muito de acordo com a linha da escola, por isso é importante que os pais se informem sobre isso antes de matricularem seus filhos.

ATIVIDADES DE RELIGIÃO

Mas não só de aula de religião se faz uma escola confessional. Pais interessados nesse tipo de ensino devem atentar também para outras manifestações dessas crenças e rituais no cotidiano da escola. Uma escola batista em Perdizes, São Paulo, por exemplo, possui aulas de Ética Cristã em sua grade, mas também promove, extracurricularmente, assembleias semanais em seu auditório (espécie de palestras com temas da sociedade atual sob a perspectiva dos valores cristãos); um projeto de reflexão cristã em um grupo de debate de jovens; e a Capelania Escolar, que “orienta, aconselha, ouve, compartilha, consola, enfim, ajuda os alunos nas suas dificuldades e crises”, explica o diretor Gezio Medrado. As escolas católicas, por outro lado, geralmente oferecem aos alunos o batismo, a preparação para a primeira eucaristia e crisma, e algumas acompanham os alunos em trabalhos voluntários com o objetivo de colocar em prática os valores cristãos. Na escola católica da zona oeste paulistana entrevistada, por exemplo, os alunos são envolvidos nesses trabalhos desde o início do ensino fundamental até o fim do ensino médio, em diferentes níveis e com variadas ONGs e comunidades. Os alunos ajudam a fazer obras emergenciais em favelas, dão aula de informática para alunos de escola pública, ajudam moradores de rua, visitam comunidades ribeirinhas carentes na Amazônia, entre outros.

“A escola é de ponta, mas se ensinasse só na teoria o ‘vamos ajudar o próximo’, sem um trabalho social prático, não adiantaria nada. Isso é o mais importante para mim”, coloca Noemi Gonçalves, mãe de três jovens alunos e ex-alunos da escola franciscana do Morumbi. Ela observa que é importante que seus filhos entendam também que são privilegiados, mas que muitos outros não são e precisam de ajuda. “O trabalho voluntário faz muito bem para a vida do meu filho, mas também vai fazer para a vida profissional dele, porque o mercado de trabalho busca pessoas ativas na sociedade.”

Outra questão para atentar na hora de escolher uma escola são as orações. Enquanto muitos colégios optam por não rezar com os alunos, outros têm o costume de fazer uma oração antes das aulas ou na hora da refeição. Se esse é o caso, cabe aos pais se certificarem que seus filhos têm a opção de participar ou não desse momento. Na escola islâmica, existem vários momentos de reza, e ela é feita em árabe (os alunos têm a disciplina na grade) e em português. Antes das aulas, todos os alunos se reúnem no pátio para a primeira oração, e ao meio-dia ela é feita na mesquita da escola (que também é aberta aos pais). No período do Ramadã, em que a maioria dos alunos jejua, o momento de ir à cantina (que não serve carne de porco e suas carnes foram abatidas por meio de um método especial) é trocado por mais uma reza na mesquita.

As escolas judaicas também carregam os costumes do seu povo em seu ensino. Em um colégio judaico no bairro de Pinheiros, nas sextas de manhã é realizado o Shabat (que precede o descanso semanal dos judeus, da sexta à noite ao sábado à noite), as meninas aos 12 recebem a preparação (e a escola organiza a cerimônia coletiva) para o Bat Mitzvah, e os meninos 13 têm aulas para o seu Bar Mitzvah, aos 13 anos. Além disso, uma coordenação de estudos judaicos trabalha junto com a coordenação geral casando conteúdos dos currículos nacionais com aqueles judaicos. “A gente não dissocia a parte judaica da parte laica”, explica Simone Assayag, coordenadora de ensino fundamental II e ensino médio de estudos judaicos. A disciplina de história judaica, por exemplo, está alinhada com a de história geral. Assim, enquanto os alunos aprendem um assunto como o Império Romano, em paralelo estudam também o que acontecia com o povo judeu naquela época. “O judaísmo pode ser encarado em diferentes aspectos: alguns veem como religião, outros como povo e há aqueles que veem como língua. Não dissociamos essas três coisas, mas queremos que o aluno desenvolva a identidade judaica”, conta Simone. O importante, segundo ela, é sempre associar a parte ritualística e que fala da religião a uma explicação. “Nunca vamos ensinar algo sem ensinar o porquê de se fazer daquele jeito, a fonte aquilo, e como relacionar isso com os valores humanitários”, diz. Na disciplina de valores e tradições judaicas da escola, o objetivo da é que os estudantes entendam a origem e o significado do que aprendem, e não reproduzam mecanicamente. “Senão, assim que ele puder parar de fazer, ele para”, conclui a coordenadora.

Diferentes Correntes

É importante ressaltar que embora existam muitos pontos comuns entre as escolas cristãs, os princípios doutrinários mudam em diferentes correntes e congregações de cada religião. Isso quer dizer que tanto as escolas protestantes quanto católicas professam os valores cristãos e acreditam no mesmo deus, mas cada uma tem sua interpretação particular da Bíblia e isso se reflete nos costumes praticados e ensinados na escola. A diferença mais básica a se ressaltar seria a adoração a imagens de santos dos católicos, que não é feita pelos protestantes, além de diferenças nas orações e símbolos.

Dentro de cada um desses grupos, no entanto, há ainda uma diferenciação, em menor escala, entre protestantes e católicas. O primeiro é dividido em inúmeros segmentos, sendo os mais representativos presentes nas escolas brasileiras os presbiterianos, os metodistas, os batistas e os adventistas. O ensino religioso diverge entre essas escolas na mesma medida em que diverge em suas diferentes igrejas representadas. Mas pelo fato de serem escolas, e não igrejas, esses acentos particulares são praticamente imperceptíveis no dia a dia escolar. O mesmo acontece na religião católica com suas diferentes e variadas congregações e ordens. Enquanto a de Santa Cruz nasceu de uma missão educativa, e a salesiana também é baseada em uma prática pedagógica específica, por exemplo, a franciscana é focada na humildade, na caridade, na convivência, no respeito ao meio ambiente e aos animais. “Todos somos cristãos e católicos, mas dentro da sagrada escritura cada um tem o seu lado”, explica Regina Célia Tocci di Giuseppe, diretora ético-religiosa do colégio católico no Morumbi. Ela diz, ainda, que essas pequenas diferenças servem de norte para as regras da escola, suas diretrizes e a forma como ela é organizada. “Nós, por exemplo, seguimos a regra de São Bento para ordenar a vida nos mosteiros, que pode ser aplicada à escola.”

Mas é importante ressaltar que a corrente seguida pela escola pode aparecer somente em detalhes no cotidiano, mas define também o formato de ensino empregado. É o que explica Sérgio Junqueira, especialista em Teologia e Ciências da Religião da PUC-PR, ao dizer que muitas escolas viraram um grupo, como o marista, o salesiano, e que acabam funcionando como os sistemas de ensino apostilados. “Tem uma central que define o que vai acontecer, e funcionam como grupos empresariais, ainda que um elabore um material mais avançado e outro um mais tradicional. Em outras escolas, existe a madre diretora que define o que será ensinado, e isso não funciona em rede. Mudou a diretora, muda tudo; não tem uma linha”, afirma.

Entre as escolas judaicas também há diferenças, que variam entre as mais tradicionais e ortodoxas e as menos. Em uma das pontas, há os colégios que não misturam alunos de diferentes gêneros, por exemplo. Em outra, há as escolas que não servem comida kosher (culinária judia). Entre esses dois extremos, cada colégio trabalha com a religião e os costumes em um nível diferente. “A nossa escola respeita mais feriados religiosos que outras escolas, tem mais rezas. Nas outras escolas existem casamentos mistos, a pessoa comemorar o natal e a páscoa”, explica Cláudia Hakim, mãe de dois alunos de um colégio judeu trilíngue na zona oeste paulistana.

A interferência da religião nas disciplinas

É fato que muitas das crenças religiosas colidem com teorias científicas, pensamentos filosóficos e com a História oficial. Por isso é essencial que os pais reflitam sobre o que esperam que seus filhos aprendam e conversem com a escola sobre como essas incompatibilidades são tratadas nas disciplinas, em especial em ciências, história e filosofia. No colégio batista entrevistado, por exemplo, o diretor garante que não existe adaptação do conteúdo. “Os alunos estudam sobre as teorias existentes, sem qualquer preocupação de enfatizar uma ou outra, embora o colégio adote a teoria criacionista”, diz Gezio Medrado. Para a rede de escolas adventistas ouvida, existem conteúdos antagônicos à crença cristã, como o evolucionismo, mas da mesma forma da batista, são ensinadas as duas vertentes. “Damos os elementos para o aluno escolher no que quer crer e ele toma sua decisão. Mas achamos errado que as escolas ensinem só o evolucionismo, como se o criacionismo fosse uma piada. Não há provas inquestionáveis nem de uma ou de outra”, coloca Lourisnei Reis, administrador geral da rede.

Entre as outras escolas entrevistadas, judaica e católicas, não se considera que exista um conflito entre os diferentes conteúdos, e ciência e religião respondem a perguntas diferentes. “Aqui não tem tema tabu. Para nós, a ciência deve ser tratada no lugar em que ela está, no lugar da ciência. E se tivermos que discutir temas polêmicos, isso só nos enriquece, e o fato dos alunos terem dúvidas faz parte da educação”, diz Simone, do colégio judaico. “Temos disciplina de debates éticos comentando como o judaísmo trata a questão do aborto, do homossexualismo. Tudo é trabalhado e debatido abertamente.”

Renata Usarski, coordenadora da pastoral do ensino médio do colégio católico entrevistado na zona oeste, observa que não existe um medo de entrar em contradição, porque a congregação de Santa Cruz acredita que “as coisas devem ser ensinadas como elas são e acontecem no mundo”, e que o ensino deve ser de ponta sem qualquer tipo de cerceamento. Ela cita, ainda, palavras do fundador da congregação, o padre francês Basile Moreau: “Devemos aceitar as descobertas científicas sem preconceitos e de forma adaptada às necessidades de nossos tempos. Não queremos que nossos alunos sejam ignorantes de qualquer coisa que devam saber.”

Apesar da posição das escolas ser aparentemente aberta em relação aos conteúdos divergentes da crença religiosa, Junqueira alerta mais uma vez que é papel da escola apresentar sua ideologia e a forma como trata esses temas, já que o Brasil não tem um currículo mínimo e por isso, na prática, é possível ensinar o que se quer. “Existem acentos na história que não são tão favoráveis à Igreja, como a Inquisição, e são passados, mas de maneira rápida, sem se aprofundar. A educação não é neutra, ela é sempre ideológica”, atenta. “Na verdade, quem faz a escolha é a família. Quando ela é desatenta e muitas vezes não acompanha o movimento da cultura e do conhecimento, não se preocupa com esses detalhes.”

Sexualidade e Comportamento

Enquanto Ciências e História podem não ser tabu em muitas escolas confessionais, sexualidade é um assunto mais delicado. Mas quando se lida com adolescentes, os colégios precisam decidir se abordam o assunto em aulas de educação sexual ou se, no mínimo, estabelecem regras em relação a namoros e a maneiras de se vestir (o uniforme é unânime entre as escolas religiosas). E cabe aos pais escolher uma escola que trate o tema como eles gostariam que fosse feito na educação dos seus filhos.

Os colégios protestantes tendem a ser mais rígidos em relação às regras de relações afetivas e contato físico, por exemplo. O colégio batista alerta seus alunos quanto a demonstrações afetivas em público. A rede adventista, igualmente. “Não é proibido namorar, o proibido é o contato físico. Não é uma responsabilidade da escola cuidar de namoros”, afirma Lourisnei. Na escola islâmica, a saia é proibida e as aulas de educação física são separadas entre meninas e meninos. “Eles conversam, mas sem toque. Namoro na escola não pode”, explica o Shake Mohamaed Amame, diretor.

A religião católica se coloca contra os métodos contraceptivos, mas e as escolas católicas? “Nós explicamos os métodos contraceptivos, mas não falamos ‘use’ ou ‘não use’. E fazemos o mesmo com drogas ilegais. Damos a formação e ajudamos a crianças a tomar decisões assertivas”, diz Regina Célia di Giuseppe. Junqueira acredita que é um dever da escola conversar sobre sexualidade com seus alunos, independente de princípios religiosos. “Eles não precisam da escola para isso, vão buscar isso de alguma forma, na internet. Mas é interessante que a escola, bem como a família, de alguma maneira respeitosa converse com esse jovem e saiba em algum momento explicar seus princípios religiosos em relação àquilo”, afirma. Para ele, explicar como surgiu e por que o cristianismo acredita no sexo depois do casamento e na monogamia são assuntos importantes.


A escolha da família
“Tanto eu quanto meu marido somos judeus, então estudamos em escolas judaicas, seguimos esses valores e tradições em casa e fazemos questão de que nossos filhos aprendam os mesmos valores e tradições e tenham a mesma boa experiência que nós tivemos. É uma comunidade em que todo mundo se conhece, então nossos amigos também colocaram os filhos em escolas judaicas e a gente sabem quem são os pais, quais são os costumes, e ficamos mais tranquilos. Sabemos o que eles fazem na casa dos outros. A comida na escola também é diferente, é kosher. É uma escola trilíngue diferente, porque rezam todos os dias em hebraico, tem aula de reza, aula preparatória para bar/bat mitzvah, aula de cultura judaica. São muitas matérias ligadas ao judaísmo. É muito diferente você mandar seu filho na escola e os alunos terem costumes diferentes. A gente fica mais tranquilo achando que estão protegidos de questões como drogas, gravidez e sexo precoce. Não quer dizer que não acontece, mas acontece menos, porque conhecemos o tipo de educação.

O pró disso tudo é manter a tradição, saber com quem está lidando, que tipo de educação vai ser oferecida, que tipo de comida está comendo. Para mim religião nunca é demais, é algo positivo. A criança tem que ter esse direcionamento porque cria sua identidade. O contra seria você não preparar a criança para o mundo. Não adianta blindá-la muito do que vai ser a sociedade amanhã. No mercado de trabalho não vão conviver com pessoas iguais e com a mesma cultura ou a mesma religião. Isso pode vir a ser um choque, e podem não saber se relacionar. Temo que não saibam lidar com as diferenças.”

Cláudia Hakim, advogada e mãe de um menino e uma menina que estudam no ensino fundamental de uma escola judaica na Barra Funda, zona oeste de São Paulo